Nem todas as tradições em Pereiros têm de ser centenárias. A festa em honra de Nossa Senhora de Fátima é relativamente recente. Criada durante a década de 70, respondeu à vontade da aldeia realizar uma festa de Verão como acontecia com a maioria das paróquias vizinhas. Esta vontade vai de encontro a duas realidades distintas: O Verão é uma época de férias, uma oportunidade para aqueles que estão fora se poderem juntar à família, com a aldeia cada vez mais despovoada os que vivem fora ultrapassam, de longe, aqueles que aqui residem. A outra vontade era juntar o sagrado ao profano, realizar uma festa numa época mais quente, mais adequada a um arraial de Verão. A escolha de Nossa Senhora de Fátima é óbvia pela devoção que as pessoas lhe dedicam e ao facto de na igreja paroquial, num dos altares colaterais, a sua imagem ocupar um lugar de destaque.
A festa ficou assim marcada para o segundo fim-de-semana de Julho. Tem-se realizado desde então de forma ininterrupta.
A festa ficou assim marcada para o segundo fim-de-semana de Julho. Tem-se realizado desde então de forma ininterrupta.
Do ponto de vista religioso, a festa começou com uma homenagem ao padroeiro Santo Amaro - A bênção do painel de azulejos recentemente colocado na janela do corpo da igreja voltada a Norte. Este espaço foi fechado no século XIX para dar lugar ao altar lateral do Sagrado Coração de Jesus. Uma janela fechada com barro grosseiro que se encontrava em estado de degradação transformou-se numa bonita e imponente moldura para um painel de azulejos. Quando no início dos anos 90 se iniciou o restauro do interior da igreja, sugeri à comissão fabriqueira da época o aproveitamento do espaço com um painel de azulejos em azul e branco. Como o dinheiro não abundava e o restauro era prioritário tal nunca veio a ser posto em prática. Ainda bem.
O painel de azulejos foi oferecido e pintado por Amparo Cabral. Devota de Santo Amaro, deixa-nos aqui um contributo de fino recorte artístico pela sua expressividade, equilíbrio de formas e cores, perfeitamente enquadrado no espaço envolvente. Santo Amaro, no seu hábito beneditino com o báculo de bispo da igreja, transformou-se no protector do exterior da igreja.
É durante as festas que se consegue esta imagem única, a igreja enche-se, faz lembrar as grandes celebrações de há trinta ou quarenta anos atrás. Uma igreja imponente ganha assim vida, aproxima-se do grande objectivo para o qual foi construída no século XVIII, acolher todas as pessoas da paróquia.
A procissão é uma tradição secular que representa a devoção das pessoas; é também uma forma de ostentação e propaganda da fé católica. Antigamente, os andores e os estandartes saiam à rua na celebração do Corpo de Deus, mesmo as imagens maiores eram transportadas na volta solene à aldeia engalanada com arcos festivos, passadeiras de flores e colchas nas janelas.
Andor de Santo Amaro
(questionei a sra. Helena porque é que punham um barco no andor de S. Amaro. Disse-me que desconhecia. Contudo, conhecia muito bem qual o principal milagre atribuído ao padroeiro, caminhar sobre as águas para salvar outro discípulo de S. Bento, de morrer afogado. Apenas não se lembrava do nome. O nome do monge salvo por S. Amaro é S. Plácido mas isso fica para outra ocasião.)
A forma de adornar os andores também se alterou nos últimos anos. As fitas e tecidos coloridos foram substituídos por flores o que lhe trouxe um ar mais singelo, simples e natural.
A torre da igreja iluminada marca os dias festivos. Ela há-de ser sempre o símbolo maior de Pereiros, aquela que marca o espaço e o tempo por onde todos passamos ou havemos de passar.
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