BEM – VINDO
O objectivo deste blog é duplo, dar a conhecer Pereiros de Ansiães, a sua história, a sua paisagem, o seu património e as suas tradições; é também uma forma de fazer aquilo que eu gosto, de partilhar emoções e memórias.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A seda em Trás-os-Montes

A seda é de origem chinesa. Contudo, situar o seu aparecimento no tempo é um mistério. Por isso é que se recorre à lenda: a imperatriz Si Ling Chi foi a primeira a descobrir a seda há mais de cinco mil anos. A história diz que, enquanto sentada debaixo de uma amoreira, no jardim do palácio, a imperatriz foi tomando chá. De repente, dos galhos da amoreira, caiu um casulo na sua chávena de chá quente e ela reparou que um filamento branco, brilhante e muito resistente se começou a desenrolar...
Para obter o fio seda é preciso ferver os casulos, cada um del
es tem à volta de 600 a 900 metros de filamento e são precisos cinco a oito filamentos para fazer um fio de seda. Por volta de 1400 antes de Cristo a seda desenvolveu-se na China como um indústria, tornando-se um dos principais elementos da sua economia.

Cesto de casulos de seda produzidos em Freixo de Espada à Cinta

Os chineses conseguiram manter este segredo bem guardado por mais de dois mil anos. Qualquer pessoa que fosse apanhada a traficar ovos, bichos da seda, casulos ou sementes de amoreira era condenado à morte. Os funcionários chineses eram pagos em seda, era também usada como moeda de troca internamente e externamente. Os chineses exportaram a seda para Ocidente através da famosa Rota da Seda, era assim que chegava ao Império Romano onde era paga a peso de ouro.
Por volta de 200 antes de Cristo muitos chineses emigraram para a Coreia e levaram consigo o segredo da seda. Assim, o segredo da seda viajou lentamente pela Ásia. Quinhentos anos depois estava na Índia. Só no século XIII, 1200 anos depois do nascimento de Cristo é que a seda chegou a Itália, através da contratação de tecelões de seda da Pérsia.
A seda chegou a Portugal pouco depois. Segundo ao Abade de Baçal a seda chegou a Trás-os-Montes no século XV:

"Em 1475 o duque de Guimarães representou a el-rei que tendo feito contrato com Rui Gonçalves de Portilho e Gabriel Pinello, genovês, para lavramento da seda em Bragança, e não sendo a da terra suficiente, porque era indispensável mais fina, lhe pedia, portanto, que isentasse de direito a que importasse de Almeria e de outras partes de fora do reino, para aquele serviço. D. Afonso V concedeu-lhe a isenção com certas cláusulas. (...) Em 1531 pedia-se ás côrtes que as sedas que se creassem e obrassem em velludos, tafetás, retrozes e outras obras, assim na cidade (de Bragança) como na terra, podessem ir livremente pelo reino vender-se, sem pagarem nenhuns direitos de alfandega, levando certidão do escrivão da Camara."(Abade de Baçal, Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, tomo II, p. 452)

Produção artesanal de seda na actualidade - Freixo de Espada à Cinta

Mas, foi no século XVIII, no reinado de D.José I, que o marquês de Pombal desenvolveu e protegeu as indústrias portuguesas provocando um surto manufactureiro da seda em Trás-os-Montes.

"As suas manufacturas tem muita extracção para todo o reino e foram mesmo para a America, para o que concorre muito a liberdade de extracção, sem paga
r direitos, concedida ás manufacturas do reino por D. José I, pelos decretos de 2 de abril de 1757 e 24 de outubro do mesmo anno. Sustenta o dito negociante João Antonio Lopes Fernandes cento e oito teares, sendo o maior numero de tafetás em que consome todos os annos oito mil arrateis de seda, a qual é de Italia quasi toda por ser a da provincia muito mal fiada. A provincia de Traz-os-Montes é tão abundante de seda que colhe regularmente vinte mil arrateis della fina e outro tanto de seda macha e redonda." (Abade de Baçal, tomo II, p.455) (1 arrátel, também chamado de libra, era igual a: 0,459 kg)

Além de Bragança desenvolveram-se outros centros produtores de seda. Foi aqui, durante o século XVIII que se iriam definir os principais pólos de produção. A vinda de famílias estrangeiras para a nossa região foi decisiva no desenvolvimento desta indústria:

Real Filatório de Chacim criado em 1788 por decreto de D. Maria I

"A família italiana dos Arnauds, perita na indústria das sedas, vinda para Portugal em 1786-1788, acaba por se instalar em Trás-os-Montes, na localidade de Chacim, onde, sob a sua orientação, é construída uma Fábrica de Fiação e Tecelagem das Sedas, que se encontra concluída em 1790. A partir de então, os Arnauds promovem a criação de escolas de fiação pelo método piemontês nalgumas localidades de Trás-os-Montes e passam a fornecer seda torcida pelo referido método, de qualidade, às fábricas de Bragança. E esta cidade, por seu lado, irá atravessar uma das épocas de maior prosperidade da sua história. (...) Em 1790-1791, Freixo de Espada à Cinta, em obediência a uma longa tradição vinda seguramente do século XVI, se não mais cedo, continua a fabricar os panos de peneiras, tafetás, fumos e gravatas, trabalho este executado por mulheres, 38, que, em igual número de teares, pertencentes a 4 empresários, registam uma produção global de 975 peças de panos de peneiras, 38 gravatas e 6 280 côvados de tafetás e fumos" (Fernando de Sousa, A Indústria das Sedas em Trás-os-Montes (1790-1820), p. 66)(1 côvado era igual a 52,4cm)

Em finais do século XVIII o crescimento da produç
ão de seda em Trás-os-Montes era significativa, atingindo o seu apogeu na última década do fim deste século:

Real Fábrica da Seda - Chacim

"Entre 1790 e 1793-1794 a indústria das sedas desta vila (Chacim) conhece progressos espectaculares. Assim, a produção de seda torcida triplica, passando a 5 500 arráteis anuais. O número de teares aumenta de 37 para 57. A produção de tecidos quadruplica, saltando de 19 640 côvados para 80 525 côvados. E o número de pessoas ocupada nesta indústria quase triplica –aumenta de 140 para 379 –, isto é, mais de 60% da população total da vila (637 almas), assim distribuídos:
  • 100 homens e 120 mulheres nas fábricas, incluindo as dobadeiras;
  • 35 homens e 130 mulheres nos tornos de torcedura;
  • 6 homens e 8 mulheres na escola de fiação.
Os seus cetins, tafetás, veludos, gorgorões tinham “excelente extracção” para todo o Reino e para o Brasil." Fernando de Sousa, op.cit. p.70

Era em Bragança que estava concentrada a maior produção. Contudo estavam aqui definidos os três grandes centros da produção de seda transmontana: Bragança, Chacim e Freixo de Espada à Cinta.

Dubadoura artesanal de seda - Freixo de Espada à Cinta

"Mas era em Bragança, então a maior e mais rica cidade transmontana, desde sempre o mais importante centro desta indústria no Portugal do interior, que se registava uma animação invejável, de tal modo que a vida económica da cidade assentava fundamentalmente em tal actividade. As suas fábricas, com 232 teares e 9 tornos, em 1794, empregavam 915 pessoas – 407 fabricantes de seda e 508 mulheres –, além de 11 torcedores de seda, e 24 tintureiros, isto é, mais de 18% da sua população total. Nos seus tornos, eram preparados 4 500 arráteis de seda ao ano. E as suas cinco tinturarias, com excepção de uma modesta tinturaria em Chacim, as únicas existentes em toda a província de Trás-os-Montes, encontravam-se reputadas a nível nacional."Fernando de Sousa, op.cit.p.72

O início do século XIX marcou algum declínio e o anunciar das dificuldades que viriam ao longo das primeira décadas deste século. Cultivava-se grande número de amoreiras, sobretudo pretas, um pouco por todo o distrito de Bragança. Mesmo nos últimos anos do século XVIII o bicho da seda foi dizimado por doenças o que obrigou à importação de semente de Piemonte, Itália. Este facto, aliado a problemas nas técnicas de fabrico, ao monopólio dos Arnaults, os compradores combinarem entre si o preço dos casulos que compravam aos agricultores nas feiras, a de Mirandela era a mais importante, o contrabando vindo de Espanha, os impostos (1801) e o gosto pelo uso de sedas estrangeiras, fez com que se tornasse mais difícil enfrentar uma cada vez maior concorrência estrangeira em qualidade e preço.
Se o século XVIII representou o apogeu da produção de sedas em Trás-os-Montes o século XIX marca o seu lento declínio, ainda que, nos primeiros anos deste século se tenha mantido, com dificuldades, a produção. As invasões francesas iniciadas em 1807 nada ajudaram ao seu desenvolvimento. Com a abertura dos portos brasileiros aos produtos ingleses perdeu-se também um dos destinos mais importantes da seda transmontana. Devido ao abandono foram arrancadas muitas amoreiras e voltou-se outra vez a métodos antigos de produção o que não beneficiou a qualidade.

Panos artesanais produzidos actualmente pela Associação para o Estudo, Defesa e Promoção do Artesanato de Freixo de Espada à Cinta.

"A escassez de capitais, quer em Chacim, quer em Bragança, onde – apesar de malograda tentativa efectuada pela Real Companhia das Sedas –, nunca surgiu um projecto endógeno, aglutinador, que congregasse efectivamente os Arnauds e os negociantes e fabricantes de sedas da região, revelou-se dramática para a indústria das sedas em Trás-os-Montes. Para continuar, as sedas trasmontanas necessitavam de mercados garantidos e de aperfeiçoamentos contínuos. Só que as invasões francesas e a extinção do regime de monopólio do mercado brasileiro destruíram aqueles e impediram estes. Após 1813-1814, os esforços dos Arnauds para arrumarem e disciplinarem a casa trasmontana quanto à criação do bicho da seda, produção de casulo e fiação, revelam-se infrutíferos, os fabricantes de Bragança debatem-se com dificuldades crescentes quanto à venda dos seus tecidos, e o Estado mostra-se cada vez mais renitente em intervir, abandonando a indústria das sedas daquela região à sua sorte." Fernando de Sousa, op.cit.p.97

Em 1830 só já havia em Bragança sessenta teares e em Chacim catorze. Em 1844 os ditos sessenta teares tiveram de fechar devido à concorrência estrangeira. Os lavradores começaram eles próprios a fazer a fiação o que diminuiu a qualidade da seda. Houve ainda vários pedidos para se concentrar o filatório da seda num único local mas tal nunca viria a acontecer. Os compradores de seda viraram-se para o estrangeiro, em especial para Itália. Começaram também a surgir novas fábrica em Lisboa, no Porto e noutras cidades do país com novas técnicas de fiação enquanto em Trás-os-Montes se continuava com os velhos teares. As velhas amoreiras pretas estavam a ser substituídas pelas mais macias amoreiras brancas. Também nas amoreiras a região não acompanhou a modernização e continuou com as amoreiras pretas.


Abade de Baçal, op.cit.p.466

A produção de casulo em Trás-os-Montes estava em franco declínio a partir de meados do século XIX. As moléstias continuaram e a produção de bichos da seda pelos lavradores não era feita nas melhores condições. Contudo, continuou a haver algumas tentativas de fomento mas que não perduraram no tempo.

"Por decreto de 29 de Outubro de 1891 foi transformada a Estação Químico-agrícola da 2.ª Região Agronómica de Mirandela, à frente da qual tinha estado João Inácio de Menezes Pimentel, em Estação de Sericicultura, tendo por objectivo: habilitar pessoal em todos os serviços atinentes à criação do sirgo; produzir semente seleccionada para
ser vendida aos sericicultores, aos quais prestaria as informações de que necessitassem; ensaiar e aperfeiçoar os processos sericícolas e promover a replantação das amoreiras, tendo para isso viveiros para as vender a quem as quisesse." Abade de Baçal, op.cit.p.467.


Tear artesanal para o fabrico de lenços de seda na Ásia

Contudo, este esforço foi depois desviado ou abandonado. A Estação de Sericicultura de Mirandela foi transformada em Estação Transmontana de Fomento Agrícola em 1898 para atender à replantação de vinhedos destruídos pela filoxera.
Os finais do século XIX trouxeram o aniquilamento quase total da seda no distrito de Bragança. O Abade de Baçal chamou-lhe um "baque medonho" o que aumentou a emigração, ano após ano, em especial para o Brasil, atingindo a cifra de sete mil indivíduos em todo o distrito em 1912, fora aqueles que embarcaram clandestinamente.
A produção de vinho conseguiu atenuar, em parte, o abandono da seda. A indústria da seda sobreviveu ao século XIX nalguns concelhos do Sul do distrito de Bragança como Freixo de Espada à Cinta mas com uma produção muito limitada, nos concelhos do Norte desapareceu completamente.

Todo o ciclo da seda sobreviveu até hoje em Freixo de Espada à Cinta mas do ponto de vista artesanal. Do ponto de vista industrial desapareceu algures durante o século XX.
Pereiros participou neste último suspiro da indústria da seda transmontana até aos anos 40 do século XX. A quem seriam vendidos os casulos de sede produzidos por algumas famílias de Pereiros? E as amoreiras com grandes troncos que ainda subsistem? Quando foram plantadas? No apogeu da produção de seda no século XVIII?



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A DEMANDA

Fotografia tirada do Alto do Termo para o poente que divide os Pereiros da Felgueira - 23 de Agosto, 2010







Por um instante fechei os olhos
e escutei o vento...

Matei a minha
sede na frescura da fonte.
No reflexo cristalino da sua água
vi reflectida a Deusa prateada.
Em êxtase, soltei o espírito.
Saciado, encarei o caminho
e iniciei a viagem.
... por um instante fechei os olhos
e contemplei o universo. (autor desconhecido)
Pereiros, Alto do Carvalhal- 23 de Agosto,2010






Símbolos da comenda de Freixiel da Ordem dos Hospitalários ou de Malta. Pereiros - Alto do Termo - Vale da Porca - 23 de Agosto

Se a demanda é a procura, o que procurei eu então? Procurei símbolos. Fiz também a minha cruzada, a minha peregrinação.
Que gente era esta? Naquela Idade Média tão longínqua e tão próxima, abandonou tudo, a sua casa, a sua família, o seu reino, a sua Europa, o seu mundo...
Cavalgando pelos símbolos, pela cruz, por Jerusalém, pela Terra Santa, pelos outros, por Jesus.
Foi assim que os encontrei, como símbolos... longe do seu aspecto terreno e humano, dos seus defeitos, dos seus bens, da sua vida efémera e profana.
Por isso, tentei ficar mais perto, fazer a viagem, encontrá-los no tempo, como uma miragem nas areias do deserto, nos outeiros, nas montanhas escarpadas de Pereiros.


A minha demanda foi pelo cavaleiro monge, símbolo da grande Ordem Soberana Militar e Hospitalar de S. João de Jerusalém de Rodes e de Malta.
Marisa, Cavaleiro-Monge


Amoreiras para a produção de seda

Existem actualmente algumas dezenas de amoreiras de amoras pretas nos Pereiros. Se olharmos com alguma atenção vemos que estão um pouco por todo o lado: foram plantadas muito próximo das casas, nos quintais e "enchidos", junto dos ribeiros, ou seja, onde facilmente se podia ter acesso a elas. Nestas plantações relegaram-nas para junto dos caminhos, das paredes ou cantos de forma a não afectarem o cultivo das hortas e de outras produções agrícolas. Encostadas a um canto mas numerosas e importantes. Estas amoreiras serviram durante muitos anos para a produção de folha para alimentar o bicho da seda e, consequentemente, produzir casulos donde se extraía o fio de seda. Esta actividade chamava-se e chama-se sericicultura.

A produção de casulos do bicho da seda e de tecidos de seda foi, ao longo do século XVIII e XIX, uma das principais riquezas de Trás-os-Montes. Estes tecidos finos eram depois vendidos para todo o país, para a nossa colónia do Brasil e para outros países da Europa, onde se tornou famosa. (com a fuga da família real portuguesa e de parte da corte para o Brasil, em 1807, na sequência das invasões francesas, foi aí introduzida a sericicultura. Hoje o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de seda) Adiante será publicado um pequeno artigo sobre a História da seda em Trás-os-Montes e o ciclo do bicho da seda.Pereiros também participou neste desenvolvimento da sericicultura que atingiu o seu apogeu no século XVIII.
Actualmente, o que restou foram estas amoreiras pretas e a toponímia, os nomes dos caminhos onde foram plantadas. Por isso, é que as pessoas chamam a alguns lugares "moreiras" ou amoreiras. Na fotografia, no caminho das"moreiras" que vai para a "Comprada" e o campo de futebol, encontramos esta amoreira pendurada na parede. Ao lado dela, está cortado para lenha, o tronco de outra amoreira que se pendurava no mesmo local.
O problema com estas amoreiras é que elas perderam o seu papel principal, a produção de folha para o bicho da seda. As suas amoras, apesar de algumas pessoas as comerem e se poder fazer compota, são pouco saborosas e digestivas. Quem arrisca comer estas amoras fica com os dentes e os lábios pintados, por isso, quando eu era rapaz as usava para pintar nas pedras. A outra razão para não se poderem comer está na pequena ficha científica que transcrevi em baixo - são um laxante poderoso. Nem os pássaros parecem ser grandes apreciadores deste fruto caso contrário não se acumulavam em tamanha quantidade no chão.

Amoreiras em terras do Eng. Faria ao lado do caminho com o nome de "Moreiras"

Ao longo do caminho das "moreiras" podemos encontrar amoreiras nos terrenos que pertenceram ou pertencem ao sr. Eng. Faria. Algumas destas amoreiras nem parecem ser muito velhas quando comparadas com outras. A razão é muito simples: várias pessoas ainda se lembram da criação de bicho da seda na "casa da aula" da D. Elisa Trigo, ou seja, a mãe de D. Maria Augusta casada com o Eng. Faria. Esta criação do bicho da seda ainda se fazia há 63 ou 64 anos. A antiga "casa da aula" fica próxima da casa da D. Elisa, em frente à actual casa de Álvaro Borges. Quem, nessa altura, alimentava e tratava dos bichos da seda era a sra. Maria Barreiras e a sua filha Fernanda Barreiras. Segundo alguns testemunhos a sala estava completamente cheia de bichos da seda.
Também a sra. Eulália Moreira confirmou que a sua mãe, Maria dos Ramos, criava bichos da seda, na sala de sua casa, onde eles moram actualmente. Esta criação terá ocorrido há mais ou menos 68 anos.

A casa Caiado Ferrão também tem algumas amoreiras nas suas propriedades, como por exemplo a da fotografia anterior, no Barreiro. Segundo o meu avô, Adelino Pinheiro, os Caiado também criavam bicho da seda. Existem várias amoreiras plantadas ao longo do ribeiro das Olgas.

Estas amoreiras próximas da casa Caiado são de grandes dimensões o que mostra a antiguidade da sua plantação. O meu avô chegou a referir o local onde se fazia a produção intensiva do bicho da seda mas perdi essa memória. Esta amoreira ao lado do caminho do "Barro" tem um tronco imponente. Será que alguém ainda se lembra do local onde os Caiado produziam o bicho da seda? Será que havia outras famílias a criar bichos da seda?

Amoreira situada em frente ao solar dos Caiado ao lado do caminho.



AMOREIRAS


Nome Científico: Morus celsa alba e Morus celsa nigra / Família Moráceas
Origem: A amoreira tipo alba é originária da China. A tipo nigra é de origem persa.
Partes usadas: Folhas e frutos.

Características e Cultivo: Árvore que atinge de 2,00 (alba) a 10,00 (nigra) metros, tronco verrugoso, folhas ovaladas, lisas, verdes brilhantes, dão frutos d
oces, comestíveis, que amadurecem no verão. Dá-se bem em regiões com muito sol, e aguenta Invernos rigorosos.
Propriedades medicinais: Propriedades laxativas e expectorantes.
Laxante simples: comer os frutos lavados de manhã em jejum. Bom para inflamações de garganta e da boca. Fazer bochechos e gargarejos com o sumo fresco dos frutos.




Existem dois tipos de amoreiras: a chamada amoreira preta, como estas de Pereiros, com amoras vermelhas e pretas e as chamadas amoreiras brancas. (imagem do lado direito)
Amora-preta é por dentro vermelho-escura e negra por fora, ao contrário das amoras brancas que tem a cor mais rosada. A amoreira branca também servia para a criação do bicho da seda, tem as folhas mais macias e, durante o século XIX, substituiu com vantagem a amoreira preta. Apenas conheci uma amoreira branca em Pereiros, no quintal do meu tio João Baptista Pinheiro, era de pequenas dimensões, as amoras eram brancas rosadas, muito doces e mais comestíveis do que as pretas. As folhas eram realmente muito parecidas com as da imagem. Chamavam-lhe amoreira da Índia. Esta amoreira já secou há alguns anos. Será que era um exemplar desta espécie?

Amoreira preta - frutos

Ao consultar alguma bibliografia sobre a História da seda em Trás-os-Montes, como por exemplo, o Professor Fernando de Sousa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, no seu trabalho, A Indústria das Sedas em Trás-os-Montes (1790-1820) e o Abade de Baçal nas suas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, ambos dão os finais do século XIX, tendência já verificada a partir de 1820, como o declínio e quase abandono da produção de seda em Trás-os-Montes. Os Pereiros aguentaram-se até à década de 40 do século XX!

A produção de fio de seda era um processo complexo, por isso, não era feito localmente. Os produtores produziam apenas os casulos que depois vendiam. Contudo, todo o processo, desde a produção de casulos, fiação e fabrico de panos era feito em Trás-os-Montes.


As amoreiras tiveram um papel importante na economia de Pereiros durante muitos anos. Podem as suas amoras não ser muito agradáveis ao paladar mas são um símbolo de uma época, não vamos transformar todos os seus troncos em lenha! Tem havido em Trás-os-montes um esforço de preservação desta memória.
Dos quatro maiores focos de produção dessa época - o Real Filatório de Chacim, Estação de Sericultura de Mirandela, as fábricas de Bragança e os Viveiros e Fábricas de Freixo de Espada à Cinta, todos têm tentado manter esta tradição.
Em Chacim, foi feito um levantamento arqueológico e preservado o edifício do Real Filatório; em Mirandela manteve-se a memória na toponímica de uma avenida onde foram plantadas amoreiras; (dão imenso trabalho todos os anos na poda e na limpeza da avenida) Em Bragança, através do seu Centro de Ciência Viva, mantém o espaço da Casa da Seda, num antigo moinho de tingimento da seda onde guarda a memória de todo o ciclo da seda; Em Freixo de Espada à Cinta mantém-se o ciclo completo, ainda se produzem, de forma artesanal, tecidos de seda.

Em Pereiros, o objectivo final era este: casulos de seda.

VAMOS CONSERVAR AS NOSSAS AMOREIRAS



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fonte do Vale


Fotografia antiga tirada na fonte do Vale.

Esta fotografia pertence a Eulália Moreira e a sua filha Adelaide Moreira. Foi-me entregue com uma legenda:
Em cima, da direita para a esquerda: Avó Maria dos Ramos, tia Palmira (casou com o sr. Adão de Zedes), João Morais, João da Teresa Penafria, Alberto Calixto ou o irmão Álvaro.
Em baixo, da direita para a esquerda: casal que veio de África e Alda Morais.
O burro para transportar a água era de Amélia do Pedro. (Caiado)

Nota: Penso que ainda será possível apurar os nomes próprios de todas as pessoas dos Pereiros e a data aproximada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Os três mosqueteiros -


Verão de 1981

Fotografia tirada no Verão de 1981 no Vale. Da esquerda para a direita Hernâni Fidalgo, Artur Felgueiras e Fernando Guerra. Os três tínhamos aqui vinte e um ou vinte e dois anos de idade. Desde há alguns anos, em especial nos anos de 77, 78 e 79 éramos os três mosqueteiros de Pereiros. Nada acontecida na aldeia sem nós sabermos, estávamos em todas... corríamos as festas de verão dos arredores, desde o Mogo em Julho até à Samorinha em Setembro. Que saudades desse tempo! Pelo menos estávamos mais elegantes.

Teatro - 1971


Agosto de 1971


Da esquerda para a direita, está o Toneca (António Figueiredo), a Teresa Morais (irmã da Jacinta), a Emília Morais (filha da Srª Aurora), a Olinda Araújo (filha da Srª Helena), a Aldina Pinheiro e Raúl Figueiredo.A foto foi tirada no tanque do quintal de João Baptista Pinheiro. Pode ver-se ao fundo o quintal, o "casão", um bocadinho da entrada do cemitério e do telhado da igreja. a serra que está por detrás é a Mata.



Esta fotografia foi enviada por Raúl Figueiredo conjuntamente com este texto que nos recorda algumas representações teatrais de que alguns ainda se devem lembrar.



"Pereiros nunca foi uma terra com tradições artísticas. O seu ambiente rural nunca permitiu tais luxos.

Nas chamadas férias grandes de 1962, tinha eu 9 anos, houve uma tentativa de organizar uma peça de teatro que acabou por ser uma “Mini-Revista” protagonizada por várias crianças da escola. Lembro-me apenas que interpretei, em parceria com a Olinda Araújo, a pequena peça ” Martinho e Mariana” e também uma dança de folclore, “Não vás ao mar Tonho”

Recordo ainda, que a timidez era tanta, que não levantei os olhos do soalho do palco.

A promotora e encenadora deste evento, foi a Helena Morais, filha dos meus saudosos padrinhos de baptismo, D.Alda Morais e Sr. João Morais.

No verão de 1971, saí de Lisboa para passar 3 semanas de férias em Pereiros. Parti com um objectivo bem definido, organizar um espectáculo de variedades. Uma espécie de Revista à Portuguesa.

Falei com o “meu par” de 1962, a Olinda Araújo. Depois fomos falar com a Aldina Pinheiro e a sua irmã Luzinha, que de imediato aceitaram colaborar.

Juntaram-se outros elementos; o meu irmão “Toneca”, a Teresa Morais, a Emília Morais e outros de que já não me recordo.

Tendo em conta os meios que tínhamos, apenas vontade, o êxito foi total.

A população de Pereiros, numerosa nessa época, esteve em peso neste espectáculo.

Se 40 anos depois fosse atribuído ao melhor intérprete um Globo de ouro, ele seria certamente entregue à Drª Aldina Pinheiro. Não tive dúvidas que foi quem esteve melhor na representação.

Continuámos durante mais alguns anos, a tradição manteve-se até 1975, a organizar novos espectáculos, que depois fomos apresentar em Codeçais e Areias.

Para algumas das cenas apresentadas, tive que fazer uma recolha, assistindo a peças de teatro como nunca. Dessa experiência, ficou-me o gosto pela imitação de figuras públicas, que me levou nos finais dos anos 70 a quatro programas de TV e muitos espectáculos ao vivo. Os espectáculos eram anunciados nas missas pelo Padre Valentim Bom e o dinheiro que as pessoas ofereciam pela entrada foi sempre para a igreja. Lembro-me que em 1971 o resultado foi cerca de mil e quinhentos escudos."


Nota do editor:

Se alguém ainda tiver fotografias dos espectáculos ou, se se lembrar de outros pormenores, pode participar.
Adicionar imagem