BEM – VINDO
O objectivo deste blog é duplo, dar a conhecer Pereiros de Ansiães, a sua história, a sua paisagem, o seu património e as suas tradições; é também uma forma de fazer aquilo que eu gosto, de partilhar emoções e memórias.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cores de Outono

O Outono é a estação do ano mais ignorada, quase não damos por ela. Por vezes, é metida no mesmo saco do Inverno, o tempo vai arrefecendo, as chuvas e as primeiras geadas fazem-se anunciar. Vamos então olhar melhor para ele. Alguns frutos ainda estão nas árvores, as cores transformam-se, vários matizes de amarelo e vermelho pintam a floresta. As folhas começam a cair. É todo um processo gradual que muda de cor e forma todos os dias. Os verdes, depois dos dias secos de Verão, tornam-se mais intensos. O cheiro da terra molhada espalha-se pelo ar.

Nesta tarde de fim de Outubro o objectivo é os Vale dos Olmos, um percurso relativamente longo que nos pode levar praticamente à Felgueira, com certeza que não vou ter tempo de o percorrer de uma única vez! Depois de dois dias de chuva intensa o sol tenta romper no intervalo da tempestade. Está uma óptima luz para tirar fotografias, se recomeçar a chover logo se vê... ficamos então pelos Vale dos Olmos.





















No Santo, o arco - íris continua a espreitar entre os sobreiros, ainda está a chover além do rio, deste lado faz sol, o que mais se pode pedir? Os marmelos dão um colorido intenso ao olival, será que ninguém precisa de fazer marmelada?






















A azeitona começa a mostrar-se, depende das oliveiras e dos locais. Na Galé de Rui Borges as videiras mantêm a folha e mostram uma variedade de cores que vão do verde ao vermelho vivo, do roxo quase negro tudo misturado com matizes de amarelo.





Estas grandes formações rochosas do alto do Vale marcam o início da encosta que nos leva aos Vale dos Olmos. É um percurso relativamente suave, contorna toda a serra do Castelo pelo meio.




















Os Pereiros ficaram para trás a espreitar através das fragas e do monte. No meio de tanto granito e de grandes declives ainda existe, aqui e ali, alguma agricultura. Esta figueira perderá as suas folhas quando cair a primeira geada a sério. Mais um cenário de mudança que se apagará brevemente.









Um caminho quase plano para podermos apreciar grandes espaços e passear entre grandes declives, isto mostra a sagacidade dos antigos quando abriram estes caminhos para as suas propriedades agrícolas. Nesta fotografia panorâmica o espaço é imenso, tudo entre Pereiros e Codeçais. Ao fundo quase não há limite, todo o vale do Tua.
























A meio, vales profundos e apertados descem do Castelo de forma vertiginosa. A estrada municipal que liga Pereiros a Codeçais serpenteia, lá ao fundo, a grande distância. Os pinheiros misturam-se com os castanheiros bravos, as cartinceiras como lhe chamam por aqui. Estes pinheiros que agora já não produzem resina, resistiram ao fogo por causa da sua altura descomunal, num vale tão apertado como este, têm de procurar a luz. Apesar do mato, nem parece que todo este vale ardeu em 2003! Para quem se recorda, há 30 anos atrás, podia-se circular por aqui, entre pinheiros centenários e moitas de cartinceiras que praticamente não deixavam entrar a luz.























De repente outro vale, o Castelo imponente, lá em cima, olha-nos de forma sobranceira, quase nos desafia a subir. São os Vale dos Olmos. Naquele curioso casarão, onde se aproveitaram tão bem as fragas para o construir, cresce agora um pinheiro. Foi necessário um trabalho hercúleo, uma vontade férrea e uma necessidade extrema para construir estas paredes que suportam todas estas calçadas. Há trinta e poucos anos podia-se começar aqui pelo casarão, seguir em frente e ir, sem grandes problemas, até à Fraga do Grilo onde, em grandes pinheiros, nidificava a águia real também chamada de mocho real por estas paragens. Quando eu era rapaz dizia-se que os seus ninhos eram do tamanho de um cesto grande. Eram os resineiros que, ao calcorrear estas fragas, sabiam os locais isolados onde se encontravam estes ninhos. Agora, a águia real está em vias de extinção a nível nacional, não sei se ainda haverá algum casal no vale do Tua.





















Nos Vale dos Olmos a paisagem sobre Codeçais e o vale do Tua é surpreendente, a diferença de altitude quase provoca vertigens. A distância, ainda que pareça pequena, é enganadora.












Passando mais estas fragas, mais uma curva apertada no caminho... outro vale profundo, novos horizontes. Alguns castanheiros centenários por baixo do caminho são autênticos sobreviventes do tempo. Antigamente eram abundantes. Não sei de quem são estes castanheiros, as castanhas são saborosas...











A economia da castanha era muito importante em Trás-os-Montes. Base da alimentação nas aldeias, tinha um papel relevante ao longo do ano, não era apenas uma tradição de S. Martinho. Cozidas, assadas ou picadas faziam parte dos hábitos alimentares dos transmontanos. As castanhas dos castanheiros são diferentes das bravas, das cartinceiras, são mais pequenas e mais doces.



















Nos Vale dos Olmos de Manuel Oliveira ficaram estas uvas tão bem conservadas nestes últimos dias de Outubro.


















Está na hora de regressar, afinal estamos no Outono, o sol desaparece mais cedo. O caminho é ladeado por castanheiros e castanhas, aqui e ali alguns sinais de javalis mostram como são abundantes nesta área. Pelo menos não lhes falta comida...




























Uma última panorâmica de todo o vale e do caminho para a Felgueira. Na caça cheguei a fazer este caminho ao contrário, começar no alto do Termo, Felgueira e depois Pereiros.






Entre os Vale dos Olmos do meu pai, Augusto Fidalgo e de António Cabral, mesmo na beira do caminho, esta pedra furada, tão característica dos maciços graníticos de Pereiros.





Ainda chove para além do rio. As fragas do alto do Vale adquirem uma tonalidade escura e ameaçadora o que lhes dá uma beleza ainda mais selvagem. Assim, penduradas sobre todo o vale do Tua, transformam-se em sentinelas atentas e silenciosas de toda a paisagem. O grande monólito no canto superior direito da fotografia inferior parece um capacete de armadura de um cavaleiro medieval ou o torreão de um castelo.


Quase no dia das bruxas, estas fragas bravias e imponentes, trazem-me à memória as histórias que o meu avô Adelino nos contava à lareira, nas longas noites de inverno, sobre caminhos e encruzilhadas ao cair da noite ou à meia - noite. Estas histórias envolviam sempre lobisomens, bruxas, grandes cavalgadas nocturnas por caminhos estreitos e encruzilhadas a horas marcadas. Se alguém interrompesse a cavalgada e ferisse o lobisomem este transformar-se-ia na pessoa amaldiçoada. Mesmo que nada disso passe por aqui a esta hora, não deixa de ser uma paisagem assombrosa e não assombrada, onde ainda cabe o nosso imaginário de infância.




















De regresso, o pormenor da rua florida mesmo na entrada da aldeia, que belo cartão de visita. Ainda há pessoas com gosto que cuidam destas coisas.













No quintal do meu tio as abóboras compõem este final de Outubro. Quase sinto ele perguntar-me com o seu jeito: "_ Então como é? ainda não decidimos onde vamos às perdizes no dia santo!"