BEM – VINDO
O objectivo deste blog é duplo, dar a conhecer Pereiros de Ansiães, a sua história, a sua paisagem, o seu património e as suas tradições; é também uma forma de fazer aquilo que eu gosto, de partilhar emoções e memórias.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

PRIMAVERA




Neste ano de 2010 a Primavera tem sido mais chuvosa e húmida, por isso, a natureza recompensou-nos de forma mais generosa do que o habitual. Por entre dias que mais parecem de Inverno um tapete de ervas e flores cobriu todos os campos de Pereiros. As árvores, os arbustos, a erva e as flores brotaram mais tarde mas permaneceram mais tempo. Uma paleta de cores variadas e brilhantes emergiu um pouco por todo o lado, os verdes são mais fortes e intensos, é a natureza ao vivo e a cores em toda a sua plenitude. Por isso é que vale a pena, mesmos entre algumas chuvadas, olhar mais para os pormenores. A Primavera ainda não acabou!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entre dois pelourinhos e dois concelhos

Pereiros é uma aldeia que ao longo da sua história pertenceu a dois concelhos: Freixiel e Carrazeda de Ansiães. Desde o início da nacionalidade até 1836 pertenceu ao concelho de Freixiel e integrou com esta vila a comenda da Ordem dos Hospitalários ou de Malta. Com a reforma administrativa liberal o concelho de Freixiel foi extinto e Pereiros passou para o concelho de Carrazeda de Ansiães.
Pereiros nunca foi município, por isso, não pode ter um Pelourinho mas tem um contributo único para a identificação do antigo concelho de Freixiel: os símbolos e os estandartes da comenda da Ordem dos Hospitalários ou de Malta na capela mor da sua Igreja Matriz.


Pelourinho era uma coluna de pedra colocada em local público, de cidade ou vila e na qual os municípios exerciam a sua justiça. Era, assim, o símbolo da jurisdição e da justiça de um concelho e da sua autonomia municipal. Também tinham direito de Pelourinho os grandes donatários, os bispos, os cabidos e os mosteiros.Em Portugal os Pelourinhos ou picotas, na sua designação mais antiga e popular, localizavam-se sempre no interior dos centros urbanos, normalmente em frente do edifício da câmara, isto é, no centro da vida comunal dos vizinhos.Desde que a partir dos finais do século XII foi permitido aos concelhos erigir os seus Pelourinhos estes foram construídos a expensas suas. Por isso, não obedeceram a um critério uniforme, dependeram da habilidade dos canteiros e do orçamento disponível. Assim, em lugar dos ganchos de ferro, muitos tinham no topo uma pequena casa em forma de guarita, feita de grades de ferro e muito semelhante a uma gaiola, onde os delinquentes eram expostos à vergonha e ao escárnio público. Nos Pelourinhos que não eram deste tipo os criminosos eram amarrados à coluna ou suspensos por baixo dos braços às argolas, ficando alguns palmos acima do solo. Aí eram açoitados ou mutilados, de harmonia com a gravidade do delito e os costumes da época.
O Pelourinho era formado por quatro partes, debaixo para cima:
Plataforma
- com ou sem degraus de acesso, onde se exibiam as cenas penais;
Base - no meio da plataforma onde emergia a coluna;
Coluna - com os seus três elementos constituintes - base, fuste e capitel;
Remate
- peça decorativa, derivada das primitivas gaiolas onde eram expostos os réus, ou um elemento arquitectónico usado como remate.Os Pelourinhos portugueses podem ser românicos, góticos (manuelinos) renascentistas ou barrocos e são, sem dúvida alguma, elementos arquitectónicos de grande valor histórico, artístico e simbólico. (Baseado no Dicionário de História de Portugal)

Pelourinho de Freixiel - Altura de 6,42 metros

O primeiro foral de Freixiel datará de 1112, tendo sido outorgado por D. Sancho Fernandes, prior da Ordem do Hospital, a cujo senhorio pertencia então a localidade. Teve foral novo de D.Manuel, em 1515. O concelho foi extinto em 1836, e integrado em Vila Flor, do qual é actual freguesia. Conserva um Pelourinho, certamente erguido na sequência do foral manuelino, e situado num largo da povoação.
O Pelourinho assenta numa plataforma de quatro degraus quadrangulares de aresta, o térreo parcialmente embebido no terreno, com desnível muito acentuado. O degrau superior serve de base à coluna. Esta tem secção quadrada, que se torna oitavada através do chanframento das arestas a curta distância do arranque, fazendo-se a transição através de diminutas molduras cantonais duplas. O fuste é composto por dois troços unidos por anel rebordante octogonal, sendo o primeiro troço, com cerca de um terço da altura total, de secção ligeiramente superior. No topo destacam-se novamente quatro pequenas saliências cantonais. O capitel é quadrangular, antecedido por duas molduras crescentes. Possui arestas ligeiramente chanfradas, e faces côncavas, ornadas com florões. O remate é constituído por um bloco com a mesma secção do capitel, que parece prolongar. Nas faces ostenta decoração heráldica, quase inteiramente ilegível, à excepção de um escudo nacional apontado, com bordadura de castelos, compondo o tipo mais habitual no reinado de D. Manuel. A peça terminal é uma pirâmide de secção quadrada, alongada, com moldura quadrangular intermédia e coroada por pequena pinha.
Trata-se de um Pelourinho manuelino bastante tradicional, em cujo remate terão sido talvez destruídos os restantes elementos heráldicos, que poderiam incluir uma esfera armilar, e ainda simbólica concelhia. Sílvia Leite (IPPAR)

Nesta imagem de pormenor pode observar-se perfeitamente o seu capitel quadrangular ornado na base por uma cinta de florões, decoração renascentista muito utilizada na arte manuelina nacional. O único elemento heráldico visível é o escudo nacional.

Freixiel tem também uma forca: trata-se deu um exemplar único no património transmontano. Era aqui que se punia, com a pena de morte por enforcamento, os crimes mais graves. Após a execução, o cadáver do condenado era exposto na forca, pendurado pelo pescoço.
É constituída por dois pilares de blocos de granito aparelhados com quase três metros de altura rematados por pirâmides. Entre os dois pilares de granito era colocado um barrote de madeira que encaixava na base das duas pirâmides do topo.


Pelourinho de Carrazeda de Ansiães

A partir de 1734 foi feita a mudança da sede de concelho da vila de Ansiães para Carrazeda de Ansiães. Os habitantes de Ansiães opuseram-se a esta perda de importância e revoltaram-se o que levou à destruição do velho Pelourinho de Ansiães e à construção deste em Carrazeda de Ansiães. Enquanto a vila de Ansiães entrava em decadência acentuada, acabando por ser abandonada em meados do século XIX, a nova vila de Carrazeda de Ansiães prosperava rapidamente.Da antiga vila de Ansiães restou o imponente castelo que foi tão importante para a defesa do Douro e a igreja românica, exemplar imprescindível para o estudo do singular românico rural português.
Em Carrazeda de Ansiães são edificadas as instituições essenciais para qualquer concelho: o Pelourinho e a Casa da Câmara ou Paços do Concelho que ostenta a data de 1736-37. A nova sede do concelho viria a desenvolver-se à volta do núcleo da Igreja Matriz que data de 1790. Todo o centro patrimonial de Carrazeda é assim tardio, do século XVIII.
A fonte que faz parte do arranjo da praça e que se encontra à frente do Pelourinho é datada de 1926 ou seja do século XX.


O Pelourinho do século XVIII, assenta numa base formada por três degraus sendo o primeiro semicircular, o segundo quadrangular e o terceiro circular. Formam, em planta, uma flor de quatro pétalas. O fuste da coluna é octogonal sem decoração. O capitel é também octogonal com um secção maior que a do fuste. Este apresenta-se decorado com as armas de D. João V. No remate uma pirâmide cónica truncada.